O Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou nesta segunda-feira uma nota criticando a abordagem da novela da Globo O Outro Lado do Paraíso dos temas abuso sexual e saúde mental. “O Conselho Federal de Psicologia entende que a telenovela, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico de personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância”, diz a nota, publicada no site do órgão.
Na trama de Walcyr Carrasco, o assunto é tratado na história de Laura (Bella Piero), uma jovem que sofreu abuso sexual do padrasto, Vinícius (Flávio Tolezani), quando era criança. Recém-casada com o médico Rafael (Igor Angelkorte), Laura não consegue se sentir plenamente confortável com o marido por causa do abuso que sofreu.
Na semana passada, a mocinha do folhetim, Clara (Bianca Bin), conversou com a garota e sugeriu que ela procurasse a advogada Adriana (Julia Dalavia), que consegue acessar as memórias reprimidas de uma pessoa usando técnicas de coaching e hipnose. Coaches são profissionais que orientam seus clientes na vida pessoal e profissional, ensinando-os a subir na vida e a desenvolver determinadas características de sua personalidade, por exemplo.
A nota do CFP critica a maneira como a Globo tratou a história. “São as novelas da Rede Globo que, como estratégia de elevar a audiência, frequentemente buscam embaralhar as barreiras do ficcional e do real”, continua o texto. “É consenso no Brasil que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que têm a habilitação adequada.”
“Saudamos como positiva a manifestação de diversos grupos e escolas de coaching, que, manifestando-se sobre o ocorrido, afirmaram compreender que os transtornos mentais devem ser cuidados por profissionais da saúde mental”, continua a nota. “O CFP faz um alerta à sociedade para que não se deixe iludir. As pessoas devem buscar terapias adequadas conduzidas por profissionais habilitados para os cuidados com a saúde, particularmente a saúde mental.”
Procurada, a assessoria de imprensa da Globo não se manifestou sobre o assunto até a publicação desta nota.
Fonte: Veja
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Lilian
PREZADA REDE GLOBO, COACHING NÃO É PSICOTERAPIA. Bem por aí. O coaching utiliza conhecimentos de diversas áreas sendo uma abordagem interdisciplinar que tem como objetivo o aumento da performance humana, mudança ou transformação.
O que pode ocorrer é que COACHES MAL PREPARADOS podem não perceber alguns tipos de “bandeiras vermelhas” , ou seja, pontos que se referem a questões patológicas. Melhor dizendo, são sinais e sintomas eventualmente apresentados por seus coachees (clientes) que caracterizam enfermidades mentais.
Essa falta de preparo adequado, pode acarretar prejuízos tanto para o profissional coach por exercer sem possuir habilitação legal a profissão de psicólogo e para o cliente, que não estará sendo atendido por profissional devidamente qualificado com nível superior em psicologia ou psiquiatria. O que pode inclusive, agravar consideravelmente seu quadro, pois o processo de coaching exige uma certa dose de estresse para que as metas sejam cumpridas.
Uma situação que pode ocorrer, por exemplo, é uma pessoa com depressão mesmo que leve, não detectável por um leigo, ser cobrada pela realização das tarefas e devido a sua condição não conseguir executá-las e começar a se sentir pior ainda em relação as suas capacidades e ocorrer um agravamento clínico. O coach sem perceber o que se passa, continua o processo sem encaminhar o cliente para profissional competente e tratamento adequado.
Por outro lado, também existem situações para as quais pessoas buscam atendimento psicoterápico e não alcançam os resultados que desejam, justamente por estarem precisando de uma abordagem mais diretiva. Se o psicólogo não for competente para perceber que seu cliente/paciente não apresenta qualquer transtorno e que existe o coaching que será mais eficaz para o caso apresentado (assim como outras abordagens dentro da psicologia que são mais direcionadas ao alcance de objetivos, promoção da saúde, bem-estar e prevenção de recaída, ressalvadas as devidas diferenças de aplicação em relação a metodologia coaching), o cliente/paciente poderá também ser prejudicado e se antes não estava precisando de psicoterapia poderá começar a precisar, pois a frustração de recorrer a uma alternativa que acreditava que iria resolver seu problema terá falhado ou se demonstrado pouco eficiente o levando a desenvolver ou a reforçar crenças na sua incapacidade, por exemplo.
O coaching pode ser muito mais proveitoso para certos casos nos quais a pessoa quer emagrecer, mudar comportamentos, desenvolver novas habilidades que podem melhorar seus relacionamentos, ganhos financeiros, qualidade de vida e até mesmo equilíbrio emocional, por meio do aprendizado da autoconsciência, um dos construtos da inteligência emocional, etc.
O público do coaching são pessoas que não apresentam sinais e sintomas que caracterizam transtornos mentais e que estejam decididos a alcançar metas específicas, mensuráveis, que tenham valores significativos para elas, realistas e com prazo determinado.
O trabalho do coach é orientar a formulação de metas, ajudar o cliente a se manter focado e motivado, a planejar, identificar e resolver problemas da trajetória, a observar e trabalhar questões psicológicas não patológicas que estejam dificultando o alcance das metas e fazer com que o cliente amplie a visão de mundo e de oportunidades e libere o máximo do seu potencial.
Se por um lado os coaches precisam conhecer os limites de sua atuação, os psicólogos também precisam conhecer mais profundamente sobre a abordagem para também direcionarem melhor seus pacientes/clientes. O que está sendo desagradável observar é a disputa entre profissionais coaches e psicólogos que não compreendem as abordagens uns dos outros. O mesmo acontece dentro da própria psicologia, que possui diversas teorias.
O atual crescimento do mercado de coaching no Brasil exige o aperfeiçoamento da formação de coaches e psicólogos, incluindo mais conhecimentos sobre transtornos mentais para coaches para que conheçam mais detalhadamente sobre os casos em que não podem atuar e mais conhecimentos sobre a metodologia coaching para os psicólogos para ampliarem seu campo de atuação e/ou compreenderem as diferenças e semelhanças entre as duas formas de trabalho e seus resultados.
Dessa forma, como esforço em amenizar a celeuma que se criou em relação ao tema (psicologia x coaching), esclareço que embora o coaching como metodologia utilize teorias da psicologia em seu embasamento, não significa que está autorizado a utilizar técnicas da psicologia para tratar problemas de ordem mental.A questão é o rigor do preparo do coach para compreender o limite de sua atuação e não ambicionar resolver demandas fora de sua alçada que podem surgir durante o processo. Lamento que o aparente interesse mercadológico da Instituição mencionada na novela não tenha permitido o devido acautelamento em relação a divulgação do rigor técnico e científico da prática do coaching. O que pode distorcer o julgamento de espectadores leigos sobre conhecimentos comprovados sobre uma metodologia altamente eficaz e científica, reconhecida quanto aos resultados positivos alcançados no desenvolvimento humano e em potencial para o desenvolvimento social.
Lilian Vianna
Coach há sete anos, graduanda em psicologia e formada em terapia cognitivo-comportamental